Márcia Silva

“A dor que leva ao Amor”

Crónica de Maio de 2023

“Se um dia o Rei do amor, neste vale de prantos,
não tivesse buscado a traição e a morte,
para todos nós a dor já não teria encantos…
Mas hoje a amamos como um tesouro e uma sorte.”

(S. Teresinha do Menino Jesus)

Meditar, neste mês tão belo, que é o mês de Maria, o ainda Maio, o mês das flores, sobre a dor e o sofrimento de Jesus por nós parece difícil, mas é necessário. Evidentemente, quando pensamos no sofrimento, na dor, conectamos logo de imediato a coisas terríveis, e de facto, está correto: veja-se a paixão de Cristo: algo terrível pelo que Jesus passou (e passa, a cada pecado cometido por nós…todos os dias). Contudo, a essa dor chamamos de “paixão” … quanto amou este Homem, este Deus, cada um de nós. Pois está na altura de sabermos o que fazemos e parar de ofender a Deus, Nosso Senhor, que está tão ofendido e sofre, verdadeiramente, ao ver-nos caminhar para o que é o verdadeiro sofrimento: viver para morrer. Permitir-se viver sem Deus…. Acontece que o Senhor é um homem divinamente apaixonado!.. Por ti, por mim! Pela vida! E buscou a morte para vencê-la, buscou a dor para amar pelo sofrimento. De facto, não acredito que haja melhor forma de amar do que a de sofrer. Não considero válido procurar o sofrimento para melhor amá-Lo. Não: disso, o Senhor encarrega-se! “Basta” que se ofereça ao Deus de Amor as cruzes pequenas, ou menores, de cada dia, para assim, espiritualmente, essas dores pequenas se transformarem em grandes alegrias aos olhos de Deus! Não fosse S. Teresinha, a santa das rosas, mostrar esse exemplo nos seus escritos, quando uma sua Irmã, no Carmelo de Lisieux, deixou cair um alfinete. Teresinha, já doente, agachou-se para apanhar esse alfinete. Curvou-se, com tanto custo e dor, e com tanto amor também, que afirmou em papel, que:

“Apanhar um alfinete, por amor, pode converter uma alma.
Que grande mistério!”

(S. Teresinha do Menino Jesus)

“És um discípulo de Emaús?”

Crónica de Abril de 2023

Lembrete: A leitura do Evangelho do passado Domingo falou-nos de dois discípulos, que fazem um caminho, em par e em desânimo. À medida que caminhavam, aparece uma nova personagem, (era Jesus), mas estes discípulos não O reconheceram. Jesus aqui, nesta passagem, faz de companheiro de viagem, de amigo, para estes dois discípulos, e faz de companheiro e de amigo, também para connosco: sim, para contigo também!
Mas, tantas vezes, te deixas caminhar desanimado como estes discípulos estavam; ora nos estudos, ora no emprego… tantas e tantas vezes que nos deixamos cair na tentação do desânimo! Parece que caminhamos em vão, porque não sentimos Deus presente, porque passamos por alguma dificuldade, ou então, simplesmente porque os dias parecem nunca correr bem… Jesus, aqui e na nossa vida, entra despercebido, é discreto, mas nunca é passivo. A tua caminhada não é em vão! Ele caminha de forma humana, descalço de preconceitos, vai junto a ti, contigo. Mesmo que não O sintas, Ele nunca esteve tão
presente… como está agora, no Sacrário, no irmão ou na irmã, a teu lado, no doente, no carente; como está agora, no teu coração!
Porque caminhas cabisbaixo, se Ele, que é a Alegria Eterna, vai contigo?!

“Ser regador dos outros”

Crónica de Março de 2023

Enquanto pensava num tema para esta nova crónica, olhei pela janela e vi… um regador. Confesso que a temática acabou por não ser assim tão boa, pois… estava sem ideias, e a que tive demorou o seu tempo. Pedi luzes ao Senhor, antes de mais nada, e vi um regador. Sei que parece parvo o facto de a minha inspiração ser um regador, mas vê bem, o Senhor está em tudo!, especialmente nas pequenas coisas.

Como rego eu a minha fé, a minha vida com o Senhor?, E ainda por cima nestes tempos onde não chove quase nada; e se chove, ora andamos aborrecidos porque nos esquecemos do guarda-chuva, ora porque molhamos os pés… Às vezes, também chove mais num lado do país do que noutro… Será que vivo a unidade de vida?, será que sou pessoa, (ou regador), de uma só peça? Não tenho em mim pedaços de madeira, que quando colocados em água, incham de vaidade?

Como rego a minha fé? De que maneira faço Deus presente na minha vida, para O poder irradiar, na vida dos outros? Será que tenho o “regador” cheio?, e se está, será que me queixo do seu peso… “carregar esta água toda, custa… acreditar e testemunhar Deus, custa”. Seja porque comentam de mim: “Lá vem @ beat@…”, seja porque não tenho forças para O testemunhar, quer dizer, para carregar este regador…

Quem dera a muitos ter o regador bem cheio dessa água-viva, quem dera a muitos. Se tens essa abundância, agradece primeiro; não te aches @ maior por nunca sentires aridez espiritual. Há muitos que passam o deserto e desesperam…. Tenhamos a compaixão e a sabedoria de coração de saber partilhar dessa água e de ser oásis espiritual para o mundo.

Se por acaso estás em aridez espiritual, e tens o regador cheio só pela metade ou quase vazio, recorda que talvez Deus te peça um pouco de paciência… sim eu sei, que chato!, mas grandes Sant@s também sentiram aridez; a questão não é sentir esse consolo Dele, de forma constante, mas de ser tão fiel, que até no deserto sejas capaz de acreditar. Tens a sensação de estar no fundo do poço? Pensa que, basta olhares para cima para, também do poço, veres o Céu!

E se fores o caso de nunca teres passado por uma aridez, se tens em ti aquela certeza de Deus, talvez seja porque Deus sabe o quão frágil és, e assim que sentisses uma ausência Dele, desesperasses tanto que chegavas a sofrer. Deus dá… Acredita!

“És tu que O deves ver”

Crónica de Fevereiro de 2023

Segue-se, neste mês, uma interpretação pessoal do poema da escritora Glória Fuertes, intitulado “És Tu Que O Deves Ver”, que ao jeito de conversa, primeiro do “eu” com Deus – numa busca insistente -, depois do eu com o próximo – na tentativa de testemunhar o que encontrou -, se tenta neste texto permitir, o leitor, pensar no quem que é Deus e no quem que sou “eu”.

A negrito as palavras de Glória Fuertes; em itálico as palavras do “qualquer tu”.

“É verdade que está em toda a parte.”

Sim, eu sei que o Senhor está em todo o lado. Desde pequenin@ que me dizem isso: “Deus é bom… está sempre contigo… ajuda-te…protege-te… é teu amigo…”.

“Más é preciso ver-Te”

Mas… é preciso… eu preciso de Te ver, de Te tocar, como Tomé, para saber que estás aí, em toda a parte. Um paradoxo isto…em toda a parte estás e eu não Te vejo, não Te alcanço…Não consigo chegar a Ti.

“Sem perguntar onde estás”

Sim, é mesmo verdade Senhor, sem perguntar a todos onde estás, eu não consigo ver-Te, alcançar-Te, chegar-me perto de Ti. Por isso pergunto, indago, questiono…

“Como se fosses um mineral ou uma planta”

Um animal ou um dinossauro…. Lembro-me bem de isso perguntar, indagar, questionar, aos meus mais velhos, como se assim eu Te soubesse… “Tomé… Toca-me”, e dizes:

“Fica em silêncio,”

Fiquei… quase à força, em silêncio, e depois quase porque o quis; esse silêncio…eras Tu Senhor? Estás aí?

“O mistério que vês e sentes”

E ouço. Vi-Te, com os olhos do coração, senti-Te, na pele que há na alma. E o mistério que Tu és, e queres ser, tornou-se foco para mim. Não sei mais deixar-Te, não sei ser sem ti, não, não…

“Não basta?”

Não te basta? – diz a voz do bom senso – saberes e sentires tudo isso, Todo Ele? Aqui, aí, neste silêncio estás, és, em mim, em todos, em qualquer parte, em mim!

“Aí está Deus, em ti,”

Ah, mas que bom, que felicidade! Falar-Te é pouco, todo o saber, todo o ter…sabe a pouco…quero mais. Quero-Te mais meu Deus. E digo agora, em obras mal feitas e palavras mal faladas, aos outros: “Aí está Deus, em ti!”.

“Mas tens que o ver, tu”

Sim, tens de ser tu mesmo, oh qualquer tu, tens de O ver com os olhos do coração e senti-Lo com a pele que há na alma. E continuo, agora eu…Uau…

“De nada serve que alguém to indique,”

Dizer o onde – em toda a parte – o paradoxo, tal; não O entenderias por ti própri@… E nem…

“Que te diga que está na ermida”

– Na ermida? – perguntas.

– Sim! – respondo – no silêncio do teu ser, cujo teu desespero tenta cobrir…

– Ah… – Tu.

… Fica no silêncio, pois…

“De nada serve”

Ser eu a indicar O invisível, que eu sei, se…

“Tens de senti-lo tu”

– Mas como? – Tu.

“Trepando, escalando”

Respondo. – A toda a força continuamente, com rasgos de verdade e sinceros “porquês?”, com humildade só tua, com os olhos no espelho vês-te e não O vês… Pois só, – digo-te eu…

“Limpando as paredes da tua casa”

Verás, alcançarás, chegarás a Ele, a quem senti e testemunho em vão, pois…

“És tu que o deves ver!”

Glória Fuertes

Márcia Silva, JH

“Era uma vez…”

Crónica de Novembro de 2022

…uma promessa de que um Rei haveria de chegar. Não, não estou a falar do Rei Sebastião, que há-de chegar numa manhã de nevoeiro, todo vitorioso. Falo de um Rei, perdão, Do Rei. O Rei prometido pelo Senhor. O Nosso Rei. Mas primeiro há uma espera; sim, porque tudo o que é bom (e Deus é o Sumo Bem) leva o seu tempo. Esperemos, não sozinhos, mas com Deus Pai que espera igualmente, no Céu.

Viver bem uma espera, é o que melhor podemos fazer. Por exemplo (e com isto um péssimo exemplo), quando esperamos na fila do banco, ou na sala de espera de uma esteticista. O quê? Dizem vocês: “esta está “maluca” das ideias, está a comparar a espera do Senhor Deus à espera de uma consulta do dentista.” Pois, realmente o exemplo não é o melhor, e o meu segundo nome é mesmo “maluca”; contudo, apesar da minha miséria tenho um ponto a que quero chegar. E vou focar-me na tua dor de dentes.

Quando vamos ao dentista, algo não está bem. Encaminhamo-nos para o consultório na espera(nça) de conseguirmos resolver essa terrível dor de dentes. “É que o dente do “juízo” decidiu aparecer logo agora.” Mas ainda assim, chegas ao consultório e dizem-te para te sentares ou para marcares uma consulta que só se realiza dali a 25 dias. Como? Esperar? Será que @ médic@ não vê que eu estou mal, será que o Senhor Deus não vê que eu preciso Dele, na minha mísera vida e agora? Deus sabe que precisas Dele, e de uma solução médica para a dor de dentes, claro, mas Deus pede-te que esperes.

Esperar não tem de ser mau, às vezes é “só” para prepararmos melhor o nosso coração para ficar pronto para a vinda do Menino Deus. Imagina que o teu coração é a manjedoura onde Deus vai dormir e ser adorado…

Será que as palhinhas desta manjedoura chegam, estão limpas, quentes, confortáveis? A minha alma está “limpa”? O que tenho a oferecer de melhor a Deus?
Será que a madeira da manjedoura está podre, gasta? A minha boa vontade está gasta, não tenho mais para dar?
Será que os pregos que unem tudo estão enferrujados? Está, a minha oração, desajustada?

Não desanimes, vamos a tempo! Por isso Deus dá-nos este tempo, não porque Ele precise, mas porque nós, sim, precisamos!
Confia, Ele sabe o que é melhor para ti!

“Questões”

Crónica de Outubro de 2022

Às vezes é bom não saber a razão de tudo.

Bem tentamos muitas vezes perceber o “porquê” das coisas, do que nos rodeia, através da ciência,
da tentativa-erro e do estudo aprofundado de vários temas. A astronomia, por exemplo. O espaço.
Astros. Estrelas. Todo um vocabulário próprio da ciência em questão, que desconheço… Para quê?

Falo nisto pois quando tinha 13 anos, lembro-me de começar a pensar mais seriamente no que
queria ser quando crescesse. Gostava do espaço, esse quê de curioso e inabitado em mim ansiava
por respostas. Hoje com 24… sou artista plástica!

Para quê tentar saber de novos planetas para habitar, sedentos de curiosidade? Procurar ir mais e
mais longe…à procura do quê? O que descobrimos? Mais planetas impróprios a habitar…vazios…vazios como o nosso coração. Detetamos novos buracos negros que sugam até mesmo a nossa energia.

Esta energia que poderia ser usada para outras coisas: conhecer melhor a Cristo, que nos outros tem
verdadeiro rosto, que é verdadeira fonte que sacia, verdadeira “argamassa” que preenche e descansa… o nosso coração.
A questão passou a ser outra…não perguntes mais “porquê?” mas “Quem?”.

Procuras resposta para:
“Porque existe a doença?”
“Porque me furaram o pneu?”
“Porque me correu mal o dia?”

E surge-te no final um: “Que mal fiz eu a Deus?”. E se invertesses a questão, para um: “Mas afinal, que mal me fez Deus?”. E se começássemos a confiar mais do que a tentar perceber tudo?!
E se mudasses as perguntas para:
“Quem me curou ontem?”
“Quem me estende a mão hoje?”
“Quem me ama… sempre?”

Márcia Silva. Uma jovem de Arcos de Valdevez, onde também é catequista desde 2013. Desde cedo que dizia que queria andar na catequese “para sempre”.
Estudou Artes Plásticas em Viana do Castelo e é apaixonada pela Arte e pela Educação Artística. Uma Jhovem Hospitaleira que gosta de escrever, de ler biografias, de desenhar e de estudar na sua área, que gosta de viajar, tendo já realizado uma pequena experiência de voluntariado no Orfanato das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus em Kerala, na Índia.