MAIS UM DIA A MENOS, NÃO É VERDADE?

Como compreender esta frase? Mais um dia. Menos um dia.
Um dia a mais, mais um dia a menos. De quê?
Da vida.
Em cada amanhecer um dia a menos de vida terrena, e, um dia a menos até à parte da
vida que chamamos de eternidade.
O sentido de quem escreveu esta frase na parede de uma gare era, talvez, outro.
Num jogo de palavras coloca a vida numa visão, numa medida, numa mentalidade,
meramente finitas.
Assim, cada amanhecer, será de facto um dia a menos.
Foi dado mais um passo até ao abismo da finitude. O que pode ser uma ajuda para uma
maior reflexão, a uma mudança de vida, ou um gatilho para o desespero, para o abismo.
Uma vida sem Deus é uma vida sem vida.
“Eu sou o Caminho, a Verdade, e a Vida.” (Jo 14, 1-6)
Jesus afirmou-O. Não fui eu, nem tu. Foi Ele.
Se acreditamos n’Ele, se O queremos imitar, seguir…
Isto é, se, verdadeiramente, acreditamos n’Ele, O queremos imitar, O queremos seguir,
então tens de acreditar na Vida.
Acreditar que a vida é interminável.
Para Deus, e em Deus, o tempo não é medido nas nossas medidas.
O tempo é d’Ele. Ele é o Senhor do tempo.
Habitamos o Chronos, mas devemos, mesmo nesse Chronos, aspirar a viver com o
coração e a mente no Kairós.
Porque todos nascemos e não mais morreremos.
Nascemos e não morreremos!
E, se não morremos, somos eternos. Eternos. Feitos para a eternidade.
Eternidade que não começa com a morte.
Começa na fecundação.
Quando somos chamados à vida somos chamados à eternidade.
A eternidade começa quando nós começamos.
Começa aqui, e, passa por várias etapas. A morte é uma delas. Não é um começo. É
uma continuidade.
É também um voltar a casa para o reencontro, para o abraço.
Não é a etapa da “reforma do ser”. É antes o momento, a etapa, do encontro, do
reencontro.
“A vida continua”. É uma expressão que ouvimos muitas vezes quando alguém parte. É
verdade.
Continua para os que ficam, mas, continua também para os que partem.
O corpo finda-se. A alma, a pessoa, jamais.
Não será um dia a menos até ao tenebroso final. Será sim, um dia a mais até ao doce
encontro.
A vida é esta constante: encontro, desencontro, reencontro.
Ama, abraça, vive. Deus ama-te. Maria abraça-te. Tu, vive. Vive!


David Barbas