“A iconografia de S. João de Deus”
Crónica de Maio de 2023
Parte 7
No mês de maio trataremos de conhecer um pouco mais sobre as seguintes representações de São João de Deus:
– A sua morte de joelhos;
– Glorificação.
A morte de São João de Deus é um dos temas mais representados na sua iconografia. Nesta figuração, o santo encontra-se ajoelhado e apresenta um crucifixo nas mãos. Segundo os seus biógrafos, São João de Deus morreu nessa posição e assim ficou durante algum tempo, mesmo após ter expirado. Esta imagem foi eternizada em muitas séries hagiográficas e contribuiu para a confirmação da sua santidade.
Em Montemor-o-Novo podemos observar essa representação numa das capelas laterais da igreja Matriz, numa tela encontrada no Convento de São Domingos e na série hagiográfica, realizada em azulejo, na igreja do Hospital de São João de Deus.
A representação da glorificação de São João de Deus é uma versão joaodeina da Assunção da Virgem. João é figurado junto a um conjunto de anjos que o elevam de forma ascendente. A criação desta figuração corresponde ao final do ciclo hagiográfico de São João de Deus.
Em Montemor-o-Novo conhecemos essa representação no teto da abóboda da nave da igreja Matriz e na igreja do Hospital de São João de Deus
Como este mês de maio é também o mês de Maria, e era grande a devoção de São João de Deus à mãe de Jesus, falaremos também da Virgem de Belém. A figura mariana que se encontra em muitas casas da Ordem Hospitaleira.
É representada com o Menino Jesus nos braços e ambos estão figurados a meio corpo. O fundo destas representações é em tons escuros. Nossa Senhora tem um vestido cor-de-rosa e um manto azul adornado por pedras e cercadura dourada. O manto cai-lhe sobre a cabeça cobrindo parcialmente a testa. O Menino é representado com um simples pano branco a envolver-lhe o corpo nu e a sua mão direita quase toca o rosto da mãe. O braço e mão direita da Virgem criam um certo dinamismo na figuração, contrastando um pouco com a verticalidade da composição. Esse braço aconchega o Menino a si. Ambas as figuras estão a olhar serenamente para o observador e têm coroa e anéis. Nossa Senhora tem, ao pescoço, um colar com uma pomba, figurando o Espírito Santo. De notar, que as duas figuras nem sempre apresentam coroa. A referida representação é bastante comum nos estabelecimentos da Ordem Hospitaleira de São João de Deus, mas também noutros edifícios. Em Espanha poderá ser observada em pintura, gravura e escultura, na Basílica de São João de Deus de Granada, no Hospital de Antón Martín, em Madrid, no Mosteiro de São Jerónimo de Yuste, na Catedral de Almería, na igreja do Mosteiro de Huelgas, na Ermida de Santo Amaro, em Burgos, em São Lourenço de El Escorial, na Catedral de Ávila e no Mosteiro de Corpus Christi, em Madrid. Em Portugal encontram-se duas pinturas a óleo sobre tela, na igreja do antigo Convento de São João de Deus, de Montemor-o-Novo, atual igreja Matriz.
“A iconografia de S. João de Deus”
Crónica de Abril de 2023
Parte 6
No mês de abril voltamos à análise da iconografia de São João de Deus. Vamos apreender então mais sobre as seguintes representações:
– Lava-pés ao peregrino transfigurado em Jesus Cristo;
– O incêndio no Hospital Real de Granada;
– A carregar um doente às costas;
O lava-pés ao peregrino que se transfigura em Cristo é uma das figurações mais representadas nas séries hagiográficas de São João de Deus. O santo encontra-se de joelhos, lavando os pés ao peregrino, que se transfigura em Cristo. O filho de Deus é representado sempre com roupa ou cajado de peregrino. A gravura base desta figuração encaixa este primeiro plano numa enfermaria, observando-se a representação de vários leitos, enquadrados por um altar na parede fundeira e a imagem de São Rafael Arcanjo a ajudar na organização da enfermaria. A referida figuração pode ser observada em Espanha, no Hospital de São João Deus e na Casa de Los Pisa, ambos em Granada e no presbitério da antiga igreja do convento de São João de Deus, em Olivença. Em Portugal, existe um exemplar na sacristia da igreja do antigo convento de São João de Deus, em Montemor-o-Novo e na igreja de São Francisco, em Estremoz. Ainda em Portugal, no século XX, surgiram algumas séries pintadas, em azulejo, na Casa de Saúde do Telhal, no Hospital de São João de Deus, em Montemor-o-Novo e na escadaria principal do antigo Hospital Militar de Belém, da autoria do Mestre Rogério do Amaral, com produção da fábrica de Sant’Ana.
A representação de São João de Deus a lavar os pés a um peregrino transfigurado em Cristo, da sacristia do antigo convento de São João de Deus de Montemor-o-Novo, tem a particularidade de não representar a enfermaria em segundo plano. Atrás da composição principal encontramos um grande edifício composto por vários arcos e uma grande porta trabalhada. Este edifício é a Basílica de São João de Deus de Granada e os arcos deverão ser o claustro do Hospital de São João de Deus dessa mesma cidade, edifício junto à referida Basílica.
O episódio de João a tentar salvar os doentes do incêndio no Hospital Real de Granada, é outra das muitas representações que marcam os reportórios hagiográficos. O facto de ter conseguido sair ileso do incêndio, bem como retirar vários doentes para o exterior do edifício, aumentou a sua notoriedade ainda no decurso da sua vida. Este episódio está ainda relacionado com a iconografia de São João de Deus a levar os doentes aos ombros. A primeira fonte iconográfica ligada aos acontecimentos anteriores é a gravura de Hernnann Panneels, da série hagiográfica do livro de António de Gouveia. A tela de Manuel Gómez-Moreno, pintada em 1880 e exposta no Museu de Belas-Artes de Granada, é uma das obras mais conhecidas relativamente a este tipo de figuração. Em Montemor-o-Novo, no Terreiro de São João de Deus, de frente para a igreja matriz, encontramos uma escultura da autoria de Costa Motta sobrinho, inaugurada em 1963, onde se observa São João de Deus a carregar um doente às costas.
“A iconografia de S. João de Deus”
Crónica de Março de 2023
Parte 5
Neste mês de março celebramos São João de Deus e por isso fazemos uma pausa no estudo da iconografia deste santo, para dar a conhecer a importância de São João de Deus na vila que o viu nascer.
Em 1678, a Câmara deliberou a proclamação de São João de Deus como patrono de Montemor-o-Novo. A partir desse ano realizava-se uma procissão, no seu dia, saindo da igreja matriz, no castelo, e recolhendo-se na casa onde nascera. Durante essa procissão, a imagem de São João de Deus era levada na sua charola, por quatro homens da governança que a Câmara deveria nomear. Essa procissão deveria levar também o corpo da Câmara com a bandeira real e todas as bandeiras dos oficiais e insígnias deste senado. As confrarias também deveriam compor a procissão. A torre do Relógio deveria repicar e as ruas deveriam ter luminárias.
A primeira referência, nas Atas de Vereação da Câmara Municipal de Montemor-o-Novo a uma procissão nas festas de São João de Deus é de 1861. A procissão tinha a seguinte composição: à frente seguia a banda de música mais antiga de Montemor-o-Novo, que seria a Pedrista; depois o pálio que guardaria a relíquia do santo e atrás ia a Câmara Municipal e o andor com a imagem de São João de Deus.
Só a partir de 1981 é que a procissão se tornou tradição em Montemor-o-Novo, realizando-se todos anos, alguns com maior solenidade que outros.
Contudo, as festividades de São João de Deus não se limitam à procissão. Em Montemor-o-Novo existe uma novena ao santo montemorense, que inicia no dia 27 de fevereiro e termina no dia 7 de março com a celebração das Vésperas. O início da novena é também visível através das decorações nas montras dos estabelecimentos comerciais, com imagens relacionadas com o santo montemorense. No dia 8 de março, às 10 horas da manhã, as celebrações começam com uma missa na cripta de São João de Deus, espaço que preserva a casa onde terá nascido João Cidade. Após essa celebração, nos últimos dois anos, tem se realizado visitas guiadas à igreja matriz de Montemor-o-Novo, com o objetivo de dar a conhecer a vida e obra de São João de Deus.
“A iconografia de S. João de Deus”
Crónica de Fevereiro de 2023
Parte 4
No mês de fevereiro analisamos as seguintes representações iconográficas de São João de Deus:
– Aparição do Menino Jesus em Gaucín;
– Aparição de Nossa Senhora a São João de Deus;
– A coroação de São João de Deus com a coroa de espinhos.
A primeira representação aqui enumerada tem uma gravura base, criada por Pedro de Villafranca, publicada no livro de António de Gouveia e de Manuel Trinchería. Nela está presente uma imagem de São João de Deus com o Menino Jesus. As duas figuras estão enquadradas por um cenário naturalista e integram vários atributos em primeiro plano: sandálias, livros e cajado. Estes elementos estão associados à narrativa do milagre e à função de vendedor ambulante desempenhada por João Cidade, por volta de 1537. O santo montemorense é representado com um gibão preto e apresenta uma expressão de surpresa, enquanto o Menino Jesus veste uma túnica vermelha e exibe a romã encimada por cruz numa das mãos. Na sacristia da Catedral de Granada encontra-se um quadro a óleo sobre tela de Pedro de Raxis, o jovem (1555-1626) com esta figuração. Em Montemor-o-Novo, na antessala da confraria do Santíssimo Sacramento, observa-se um quadro, também a óleo sobre tela, com a mesma representação.
A imagem de Nossa Senhora junto a São João de Deus aparece em alguns momentos da sua vida, marcando a devoção mariana descrita pelos seus biógrafos. É representada em três momentos: enquanto soldado, quando caiu de uma égua; na peregrinação ao mosteiro de Nossa Senhora da Guadalupe; e quando Nossa Senhora lhe entrega o seu filho. As gravuras base das referidas representações são de Pedro de Villafranca. Foi a partir destas que se criaram os vários quadros presentes nas casas da Ordem Hospitaleira.
Não sendo comum nas representações existentes em Portugal, nelas surge, por vezes, o atributo da coroa de espinhos que se pode observar tanto em esculturas como em pinturas. Esta figuração deve-se ao episódio relatado por Celi e outros biógrafos, em que João foi à Igreja do Sagrado Coração, em Granada e aí foi coroado por Nossa Senhora e São João Evangelista. No mês de março fazemos uma pequena pausa na nossa análise da iconografia de São João de Deus, para darmos a conhecer as tradições e devoções associadas a São João de Deus na sua terra natal. Afinal como é que os montemorenses celebram o dia 8 de março? O dia do seu santo patrono! Iremos saber no próximo artigo.
“A iconografia de S. João de Deus”
Crónica de Janeiro de 2023
Parte 3
São João de Deus é um dos santos que apresenta uma maior variedade iconográfica. No mês passado percebemos que muitas são as suas representações e por isso descrevemos este mês as três primeiras:
– São João de Deus como patriarca e fundador da Ordem;
– Com o Menino Jesus em seus braços;
– Contemplando o crucifixo;
Como patriarca e fundador da Ordem Hospitaleira, São João de Deus é representado de pé e em posição frontal. Está acompanhado por vários atributos relacionados com a fundação de uma Ordem Religiosa, tais como: bandeira, cruz patriarcal e a maqueta da Basílica de São João de Deus, de Granada. Além dos seus atributos pessoais, como o hábito e o escapulário, a coroa de espinhos e o crucifixo, acresce a romã e o escudo da Ordem Hospitaleira. Esta figuração apresenta-se maioritariamente em escultura, embora também exista em registos de pintura e gravura.
A primeira escultura de São João de Deus como patriarca e fundador da Ordem, é a que se encontra na Catedral de Granada, instalada em 1674. Cinco anos depois, na Basílica de São João de Deus em Granada, foi também colocada uma escultura da mesma tipologia, da autoria de Bernardo de Mora (1614-1684).
Relativamente à representação de São João de Deus a receber o Menino Jesus, a mesma figura num episódio biográfico: Nossa Senhora aparece ao santo e entrega-lhe o seu filho, para que o vista e guarde. Esta figuração evidencia a questão da assistência e da infância desvalida, que teve a sua origem em Itália, por volta do século XVIII. Referimo-nos às casas da Roda, que recebiam os meninos abandonados.
Outra imagem muito reproduzida em termos de iconografia joaodeína é o santo a contemplar o crucifixo. São João de Deus tem nas suas mãos um crucifixo e na cabeça detém, com frequência, uma coroa de espinhos que o liga à Paixão de Jesus Cristo e ao seu percurso de entrega aos outros. Surge em registos de pintura e de escultura. Destacam-se as imagens presentes na Catedral de Granada e na Basílica de São João de Deus, da mesma cidade espanhola. Em Portugal, esta representação aparece em Lavre, na igreja de Nossa Senhora da Assunção, na Basílica de Mafra e em Montemor-o-Novo, na atual igreja matriz.
No próximo mês analisaremos as seguintes representações iconográficas de São João de Deus:
– Aparição do Menino Jesus em Gaucín;
– Aparição de Nossa Senhora a São João de Deus; – A coroação de São João de Deus com a coroa de espinhos.
“A iconografia de S. João de Deus”
Crónica de Dezembro de 2022
Parte 2
São João de Deus tem um vasto reportório hagiográfico, fornecendo ao observador uma trajetória ilustrada da sua vida e obra.
A primeira série hagiográfica é de 1599. Foi criada em Roma pelo gravador Jacobo Lauro e publicada com a licença do Papa Sixto V. A representação pretendia dar a conhecer a vida do santo de forma condensada, figurando apenas sete episódios.
Posteriormente, em 1659, conhece-se o repertório hagiográfico publicado na biografia de António de Gouveia. A série teria a representação de trinta e seis episódios da vida de São João de Deus, conhecendo-se apenas trinta e um.
As figurações foram realizadas por Pedro de Villafranca, Juan de Noort (1587-1652) e Hernan Panneels (act.1638-1651), influenciadas pelas descrições da sua vida, narradas nas várias biografias. No contexto artístico são percetíveis influências de gravuras disponíveis nesta época.
As gravuras publicadas em 1659 constituem-se como os principais modelos para as representações posteriores, devido à excelente qualidade, precisão e detalhe que apresentam.
Outra série hagiográfica é da autoria de Fr. Matias de Irala Yuso (1680-1753), feita por encomenda do Pe. Alonso de Jesús Pardo y Ortega (1696-1771), em Madrid, no ano de 1738. Essa estampa marca o início do texto da Carta da Irmandade e representa vinte e uma passagens da vida de São João de Deus. Após 1865, continuaram-se a representar as hagiografias anteriores e criaram-se novas séries em pintura a óleo. Dessas séries, destacam-se as obras de Domingos Rebelo (1891-1975), em Portugal, de Manuel López Vásquez (1920-2004), em Espanha e de Onofrio Bramante (1926-2000), em Itália. Evidenciando-se as seguintes representações:
– São João de Deus como patriarca e fundador da Ordem;
– Com o Menino Jesus em seus braços;
– Contemplando o crucifixo;
– Aparição do Menino Jesus em Gaucín;
– Aparição de Nossa Senhora a São João de Deus;
– A coroação de São João de Deus com a coroa de espinhos;
– Lava-pés ao peregrino transfigurado em Jesus Cristo;
– O incêndio no Hospital Real de Granada;
– A carregar um doente às costas;
– A sua morte de joelhos;
– Glorificação.
Nos próximos meses vamos conhecendo cada uma destas figurações de São João de Deus, analisando a sua composição e observando os seus detalhes.
Desejo a todos os leitores um feliz Natal e um ótimo Ano Novo!
“O verdadeiro retrato do santo”
Crónica de Novembro de 2022
No passado mês de outubro começámos com uma introdução à iconografia de São João de Deus. Este mês retomamos este tema, falando do “verdadeiro retrato” do santo.
Esta representação foi iniciada pelo pintor Alonso Sánchez Coello (1531-1588), tendo sido pintada para o Hospital de São João de Deus, de Granada. A figuração recai apenas no seu busto, reservando-se o meio corpo para gravuras.
O título de verdadeiro retrato deve-se ao facto de esta tipologia ter por objetivo o conhecimento do rosto do fundador da Ordem Hospitaleira por parte dos fiéis, utentes e visitantes das várias casas da Ordem Hospitaleira, espalhadas por todo o mundo, evitando-se a improvisação e oferecendo uma imagem mais estável e fidedigna possível do santo.
São João de Deus é representado de cabeça rapada, olhar profundo, com ar robusto e de barba negra. Após o primeiro retrato de São João de Deus de Alonso Sánchez Coello, muitos outros o sucederam: “(…) entre 1823 e 1825 realizaram-se diversas cópias do mesmo, estando distribuídas pelas diferentes casas da Ordem Hospitaleira”. A importância e popularidade desta representação destaca-se pela sua difusão junto dos hospitais e casas desta Ordem religiosa.
Esta figuração não é exclusiva em pintura, existindo também em gravura. Pedro de Villafranca (1615-1684) foi o gravador que concebeu, em 1658, um “verdadeiro retrato” para ilustrar a biografia escrita por António de Gouveia. O santo é representado em média figura, com a mão esquerda a segurar um crucifixo e a direita sobre o peito. Está vestido com um gibão preto e uma coroa de espinhos pousada na cabeça. À sua frente encontra-se uma mesa com alguns atributos: um livro fechado, um tinteiro, uma ampulheta e uma disciplina. Estes elementos estão ligados às várias atividades que executou em vida e às virtudes do santo hospitaleiro. No canto superior direito desta gravura surge o escudo da Ordem Hospitaleira de São João de Deus, com a romã, o luzeiro e uma cruz. O retrato é ainda enquadrado por uma cortina.
Em Montemor-o-Novo, no Museu de São Domingos, existe um quadro com esta mesma representação inspirada na gravura de Pedro de Villafranca. No reverso do mesmo encontramos a seguinte legenda: “Verdadeiro retrato de João Ferreira Cidade, (S. João de Deus). Foi achado este quadro nas ruínas do Convento das Freiras de N.S. da Saudação desta Villa, onde hoje está o Asylo de Infancia Desvalida, pelo tesoureiro do mesmo Asylo, Joaquim Jozé Faísca, que o restaurou e arranjou para ficar no mesmo Asylo, pelo achado de muito merecimento e próprio para esta caza de Caridade. 10 de Junho de 1877. Faísca.”. No próximo mês trataremos de apresentar as várias séries hagiográficas de São João de Deus, iniciadas em 1599.
“A iconografia de S. João de Deus”
Crónica de Outubro de 2022
Parte 1
São João de Deus é um dos santos com maior variedade iconográfica em Portugal e no mundo. A sua iconografia foi enriquecida pelos vários acontecimentos da sua vida, mas principalmente pela celebração da beatificação (21 de setembro de 1630) e canonização (16 de outubro de 1690). Através do reconhecimento e veneração do santo, conceberam-se várias simbologias e atributos que facilitam a sua identificação.
Enquanto historiadora de arte, irei dar-vos a conhecer a iconografia de São João de Deus, através destes artigos mensais. Neste primeiro artigo pretendo introduzir este tema, demonstrando a importância das figurações do santo.
A iconografia de São João de Deus divide-se em três representações principais:
1 – A morte e os acontecimentos sobrenaturais e milagrosos;
2 – O reconhecimento da santidade através de imagens triunfalistas;
3 – A representação enquanto santo caritativo.
Além destas três principais figurações, destaca-se a primeira imagem de São João de Deus, publicada na tradução castelhana da Bula Licet ex Debito, de 1579 e posteriormente, na obra de Francisco de Castro, em 1585. É uma gravura xilográfica, de autor anónimo, e a sua figuração recai na imagem de São João de Deus, de perfil e de joelhos, com as mãos juntas em atitude de oração, a olhar para um grande crucifixo. É representado com uma túnica curta, de mangas largas e justa à sua cintura. Por baixo desta vestimenta, tem umas calças estreitas e compridas, até ao tornozelo. Os pés estão descalços e a cabeça descoberta e rapada. No ombro esquerdo observa-se um cajado com remate curvo. À sua frente, está um grande crucifixo formado por dois madeiros planos. Ao centro, encontra-se Jesus Cristo, suspenso e com um leve pano no baixo-ventre. No topo do madeiro vertical, encontra-se a cartela com as letras I.N.R.I.
A primeira imagem de São João de Deus é considerada original, bem como a única versão autêntica do seu retrato. Esta afirmação deve-se ao facto de o ano em que foi produzida esta gravura ser muito próximo ao ano da sua morte.
No próximo mês iremos conhecer mais sobre a extensa iconografia de São João de Deus, destacando a análise da imagem considerada “verdadeiro retrato”.
Filomena Caetano. Licenciada em História e Arqueologia pela Universidade de Évora e com o mestrado em História de Arte e Património pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. O tema da sua dissertação de mestrado foi o Património Vivencial de São João de Deus em Montemor-o-Novo do