Maio é mês de Maria. Junho é mês do Sagrado Coração de Jesus.
Tal circunstância factual do calendário litúrgico remete-me sempre para o episódio das Bodas de Caná: “Mulher, que tenho Eu com isso?” (Jo 2, 1-11). Maria antecipa-se para nos levar ao seu Filho. Jesus não se coíbe de atender ao gesto de Sua Mãe, por amor a nós. Mãe e Filho de “corações dados”, a trabalhar incansavelmente pela nossa salvação.
Mas, que me diz concretamente o Sagrado Coração de Jesus?
A expressão simbólica faz perpetuamente ressoar em mim a experiência mística de Santa Margarida Maria de Alacoque, monja da Ordem da Visitação de Santa Maria, que está intimamente ligada à devoção do Sagrado Coração de Jesus.
Após ser curada de uma estranha doença pela intercessão da Virgem Maria, Margarida tornou-se devota do Santíssimo Sacramento do Altar, onde começou a receber manifestações visíveis do Sagrado Coração de Jesus, as quais duraram dois anos. É a estas aparições que “devemos” hoje a Festa do Sagrado Coração de Jesus, celebrada 19 dias depois do Pentecostes.
Há uns anos, uma amiga ofereceu-me um ícone, cuja imagem é uma cópia do fresco da Capela da Visitação, em Paray-le-Monial. Nele, Jesus mostra a Sta. Margarida Maria as Suas Cinco Chagas, brilhantes como um sol. Desde então, o ícone acompanha-me para todo o lado, onde eu esteja a residir. É acessório imprescindível no meu quarto.
Olhar o Sagrado Coração de Jesus, a partir deste ícone, é, para mim, experimentar a certeza (e a consolação) de que há sempre um horizonte que nos espera para lá do sofrimento e da morte; que a Cruz duma vida e as Cruzes de cada dia não têm a palavra final. Mas, para isso, é imprescindível dispormos o nosso coração a responder todos os dias à interpelação de Jo 5,6: “Queres ficar curado?”. Todos os dias são um recomeço. Porque todos os dias carregamos a influência do pecado. Não é um recomeço a partir do zero. Há dias que são um ou dois passos à frente. Outros são um ou dois passos atrás. E há ainda dias em que damos um salto que abarca e ultrapassa todos os recuos.
Sorte a nossa, que a Palavra de Deus sempre nos espera, qual Sol que nunca se põe no horizonte!
Notas introdutórias à parte, que tem o Sagrado Coração de Jesus a ver com a Hospitalidade? Tudo, e… tudo!!!
Atendamos ao facto de a Congregação das Irmãs se chamar “Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus”. O nome é expressão do carisma da Congregação, porque exemplo maior de hospitalidade é precisamente o Sagrado Coração de Jesus: exemplo da caridade perfeita, com caráter eminentemente humanizador, com qualidade relacional e respeito pelos direitos e dignidade da pessoa.
Li há dias, no mais recente livro de Raquel Ochoa, que “em cada beco escuro há vida para uma candeia”. Ora, desde a sua fundação, tanto as Irmãs Hospitaleiras como os Irmãos de São João de Deus, procuram proporcionar aos doentes acolhidos nos seus centros, uma oferta de saúde integral, que promova a “cura” da pessoa na sua totalidade.
Esta é a minha profissão de fé: “Senhor, és o Sol que sempre aquece e ilumina o escuro do meu coração, que me impele à ação para melhor amar o meu irmão”.